segunda-feira, 19 de julho de 2010

Prince of Persia - The Forgotten Sands


Aquele personagem, que anos mais tarde ganharia o nome Dastan, tinha algo a mais. Ele relacionava-se com o jogador não pela história, mas pela maneira ora inquieta, ora cautelosa como se movia. Sua personalidade era definida ali, nos movimentos. O restante sobrava para a imaginação.

Mechner tentou aproveitar isso em toda a série - e seu Príncipe foi, a cada capítulo, ganhando habilidades e recursos, conforme acompanhava a evolução dos jogos eletrônicos, culminando neste Prince of Persia: The Forgotten Sands.
Na trama, Dastan vai visitar o reino de seu irmão. Mas quando chega lá descobre uma invasão em curso por um exército inimigo. Esgueirando-se, o príncipe descobre que o regente, desesperado, vai liberar um poder ancestral que recriará um exército de demônios para afugentar os invasores. O problema é que a força sai do controle e soma-se ao problema. Agora, cabe a Dastan, auxiliado por uma entidade mística, encontrar uma maneira de parar esses demônios e devolver a ordem ao reino do irmão.
O jogo segue a linha estabelecida na série iniciada por The Sands of Time, que não por acaso inspirou o filme de mesmo nome, Principe da Pérsia: As Areias do Tempo. Ainda que não seja uma adaptação do longa, mercadologicamente faz mesmo mais sentido que o game desfrute da mesma base criativa do filme.


Para quem está conhecendo agora a série, The Sands of Time pode ter algum interesse. A movimentação, lutas de espadas e magia e quebra-cabeças seguem o ponto focal do título e continuam muito bem executadas. Porém, falta ao jogo novidade para os fãs da série. A história é mais superficial que as anteriores dentro de seu arco criativo e há uma repetição geral do que vinha sendo realizado em games como Sands of Time, Warrior Within eTwo Thrones. Além disso, um dos pontos mais criticados do último game voltou a ser como era. Enquanto no anterior a personagem feminina que acompanhava a trama salvava o Príncipe a cada erro, aqui a quantidade de replays (o rebobinamento do tempo para corrigir falhas ou mortes) é limitada a poucos usos, que devem ser recarregados (facilmente) vencendo inimigos ou destruindo elementos do cenário, como vasos. Dá pra falhar algumas vezes, se errar demais, o jogador é obrigado a voltar ao último checkpoint. Isso dá alguma urgência ao game, torna-o um pouco mais desafiador. A novidade fica por conta dos poderes elementais, que rendem a pirotecnia e alguns momentos bacanas, como o congelamento de fontes d'agua para usá-las como elementos estruturais que permitem acrobacias.
A velha fórmula linear dos labirintos tornando-se mais complexos enquanto acumulam-se poderes, porém, está ficando cansada. E isso fica ainda mais evidenciado em games que não tenham uma grande história ou qualidade gráfica excepcional, como este. É sempre a mesma curva de aprendizado e desafios com os jogos de ação. Entendo que deva existir um clímax - e que ele só será satisfatório se empregar todos os recursos adquiridos ao longo do jogo -, mas uma vez ao menos eu gostaria de ver um grande game milionário com ideias um pouco mais arrojadas.
Um jogo místico e cheio de ação e cheio de mitologia como Prince of Persia certamente poderia arriscar algumas ideias novas, ousar um pouco mais, levar seus horizontes a outras esferas sem perder as qualidades pelas quais é conhecido, como a Nintendo fez com Mario Galaxy, por exemplo. Preocupa-me que as grandes e lucrativas franquias se acomodem dentro de suas fronteiras conhecidas e deixem de surpreender seus fãs pelo que representam aos seus estúdios, outrora pequenos e ousados e agora tão preocupados em se adequar à indústria do entretenimento, em encaixar-se em tantas mídias quanto possíveis. Não é em Prince of Persia: The Sands of Time que encontraremos aquele herói que aguçava a imaginação com passos rápidos e guinadas manemolentes. Este aqui, com nome, "character chart" bem definido, dublador espirituoso, alta definição e encarnado em Hollywood não gera sequer um átimo do fascínio de seu misterioso antepassado.
Prince of Persia: The Forgotten Sands está disponível para PlayStation 3, Xbox 360 e PCs. Versões mais simples, para Nintendo Wii, PSP e Nintendo DS também estão nas lojas - mas diferem da criticada aqui.
Postado por: Enzzo

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